segunda-feira, 2 de maio de 2011

O CÉU, O INFERNO E A SUPERAÇÃO NA VIDA DE UM CAMPEÃO


Adriano Foglia

Do Juventus da Mooca até ser escolhido como o melhor jogador do mundo no futsal em 2003, disputar dois mundiais e ser um dos principais protagonistas do mundial do Brasil em 2008, Adriano Foglia passou por privações, complicações do início de carreira, dificuldades financeiras e foi do céu ao inferno, sempre buscando se superar em cada um desses momentos.

A carreira começou no Juventus da Mooca (SP), mas logo Adriano se transferiu para o Palmeiras (SP), ainda na categoria infantil, onde permaneceu por seis meses, em seguida foi para o Nacional Marvel (SP), onde atuou em outra metade de temporada, até realizar sua última transferência em solo brasileiro: Em 1998 voltou para o Palmeiras, onde foi “visto” e levado para a Itália em 1999.

Tudo aconteceu muito rápido, tinha 17 anos quando chamou a atenção dos italianos e no ano seguinte já encantava o país europeu: “Estava no Palmeiras com 17 para 18 anos, era ainda juvenil, mas jogava no time principal, em uma partida de nossa equipe tinha um presidente de um clube da Itália que gostou do meu jeito de jogar e quis me levar, mas fui mesmo porque passava por um momento difícil financeiramente e familiar.” Comenta Adriano, era o começo “azul” de sua carreira.


O Céu

Esse foi o começo do “céu”, nos primeiros quatro anos a Itália se rendeu ao seu talento, em dois desses anos foi artilheiro na maior competição do país. As grandes atuações chamaram a atenção do mundo e em 2003, Adriano era escolhido como o melhor jogador do planeta, posto na atualidade ocupado pelo gênio Falcão.

O que se seguiu foram glórias e títulos, que culminou com sua naturalização e a convocação para o campeonato mundial de 2004, competição em que foi vice-campeão com o selecionado italiano.

Em 2008 estava em outro mundial, disputado no Rio de Janeiro. Os principais destaques da competição eram Brasil e Espanha por motivos incontestáveis e também a Itália, que chamou a atenção por ter seu elenco formado somente por ítalos brasileiros, entre eles, um camisa 10 com o nome Foglia estampado nas costas.

“No mundial acredito que joguei muito bem, apesar de ter sido convocado na posição de pivô, que não era onde atuava na época e ter marcado poucos gols, mas procurei fazer o melhor. Infelizmente na semifinal aconteceu aquela fatalidade, que talvez nunca mais aconteça e fomos eliminados, foi onde começou a acontecer coisas ruins na minha vida.” Explica Adriano

A fatalidade a que se refere aconteceu no último lance da partida semifinal entre Espanha e Itália. Já na prorrogação e com o placar apontando 2 a 2, tudo indicava que o jogo seguiria para a disputa por pênaltis. Porém, após um passe errado no ataque da Itália, a Espanha conseguiu o contra-ataque, Kike bateu para o gol, a bola acertou a trave e voltou para a área, com o cronômetro já zerado, Foglia, que vinha embalado, não conseguiu se desviar da bola e tocou involuntariamente para dentro de seu próprio gol, antes que o árbitro cubano Antonio Alvarez decretasse o fim da partida, a confirmação do gol só veio 10 minutos depois, após uma discussão dos dois times com o árbitro. Aos resignados italianos, restou dar o chute da meia-quadra após o reinício da partida e chorar até hoje, quase três anos depois, a desclassificação, começava ai a parte negra da vida de Adriano.

Foglia atuando pela Itália.

O Inferno

Como afirma Adriano, o duro golpe parece ter marcado o início de tempos ruins. Pouco depois o camisa 10 da azzurra se separou da esposa e em consequência se distanciou da filha. Como se não bastasse, na mesma época, descobriu que a menina era autista: “Foi tudo muito rápido, a separação de minha família, depois a doença de minha filha. Antes já não estava conseguindo lidar com a fama e com o dinheiro e juntando esses fatos meu mundo desmoronou.” Lamenta Foglia

Adriano não suportou tanta pressão, até mesmo a separação da família foi consequência

Tantos foram os golpes que o ítalo-brasileiro não suportou e encontrou o consolo nas drogas: “Não estava acostumado a enfrentar problemas como os que eu estava vivendo, foi em um momento de fraqueza, mas errei e tinha que pagar por isso.” Disse

Nessa turbulência, foi pego em um exame antidoping e chegou ao fundo do poço: “Nunca fui usuário, tanto é que foram 10 anos de seleção, dois mundiais, quatro europeus e muitos exames antidoping com a seleção e com os clubes em que joguei, tenho todos os exames comigo, se fosse um usuário frequente teria sido pego em outras vezes, Graças a Deus não era e nunca fui, aconteceu naqueles momentos de turbulência e fraqueza.” Explica

Mesmo aguardando julgamento desportivo, após o episódio do doping, dia 02 de julho de 2009, a Malwee, maior equipe do país na ocasião, anunciou a contratação do jogador, o ala chegou a se integrar ao elenco de Jaraguá do Sul (SC), mas pouco depois sua penalidade foi sancionada e teve que deixar o grupo, a dura pena imposta foi de 22 meses afastado das quadras: “Sabia que tinha errado, fui homem de enfrentar, sou homem de falar a respeito e fui homem de encarar essa punição. Fui execrado, muita gente se afastou de mim, o que é normal, meu clube ficou sem me pagar, passei o que não desejo para ninguém, nesse momento vi a importância da família, que ficou ao meu lado e de alguns amigos que até hoje estão comigo, sou grato ao pessoal da Malwee por me propor um contrato, aprendi mais com o Ferretti e o Marcão nesses dois meses de Malwee do que todo o tempo na Itália.” comentou

Expirado o tempo de punição em outubro de 2010, Adriano está de volta e afirma ter dado a volta por cima: “O pior já passou, estou de novo com minha família, vi que isso é o que realmente importa, dei a volta por cima, já tive algumas sondagens de clubes do Brasil, mas não posso voltar agora, acabando esse ano ainda tenho mais um de contrato, mas não vou renovar, ainda quero defender um time do Brasil e mostrar que é possível se levantar depois de levar tanta pancada, o que passou, passou, tenho apenas 29 anos e muitos anos de futsal pela frente.” Finalizou

Retorno ao céu...

Neste domingo (01/05), o Montesilvano (Itália) entrou em quadra no Cazaquistão para enfrentar o Sporting (Portugal), na decisão da mais importante competição do salonismo europeu, a Copa UEFA. E um camisa 20, com dois gols ainda na primeira etapa, praticamente definiu o confronto a favor do time italiano, acima do número 20, a estampa...Foglia.

O céu é o limite para quem ousa sonhar e conhece os caminhos da superação, definitivamente, a fera está de volta!




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