A RELAÇÃO TÉCNICO-ATLETA
Silvia Teixeira de Pinho; Daniel Medeiros Alves; Luiz Antonio O. Ramos Filho
Resumo
Todo atleta interage com o técnico com intuito de melhorar seu desempenho e adquirir todo conhecimento possível, visando seu desenvolvimento na modalidade, e por outro lado o técnico tem um papel fundamental, sendo responsável pela atuação e pela organização da equipe. O objetivo deste estudo é verificar quais fatores interferem na relação do técnico com o atleta. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica, realizada em livros de psicologia do esporte, artigos e estudos referentes ao mesmo. Foi possível constatar que as interações entre técnicos e atletas dependem principalmente das necessidades e personalidades dos envolvidos, influenciando no trabalho de ambos. A relação técnico-atleta é fundamental para o desenvolvimento de uma equipe, pois, o bom técnico tem que conhecer seu atleta e fazer orientações preciosas tanto no esporte como na vida pessoal, sabendo discernir a idade e a categoria que esta trabalhando.
Introdução
No esporte, são muitos os aspectos que contribuem para o desenvolvimento e formação de uma equipe. O atleta, que atua na modalidade, suas características, seus pensamentos, sua cultura, seus objetivos e sonhos, seu rendimento, e etc. Ao redor deste atleta, todo o suporte que lhe é oferecido, como o técnico, o preparador físico, o psicólogo, a família, a torcida, o patrocínio e etc. O técnico, que em muitas ocasiões
passa a ter importância igual ou maior que a de um atleta. O relacionamento entre técnicos e atletas é fundamental para que se consiga bons resultados no esporte. São muitos os exemplos de equipes que tinham uma boa harmonia no grupo, nas relações internas e que conseguiram chegar a resultados expressivos. Porém, também são muitos os casos de rivalidades e desentendimentos entre jogadores e técnicos, que acabaram prejudicando o desempenho nas competições.
É evidente que no esporte atual a boa e eficiente interação entre os atletas e seu treinador não é algo simples, porém, também não é impossível. Desta forma, a análise das maneiras como se procede o relacionamento entre o técnico e seus atletas é muito relevante para o meio esportivo. Este trabalho tem como objetivo, buscar na literatura moderna quais os fatores que interferem na relação do técnico com o atleta. Analisar o perfil dos vários tipos de treinadores. Verificar qual o comportamento ideal do treinador, dentro dos respectivos períodos de vida em que os seus atletas atravessam. Analisar de que maneira ocorre a boa e a má interação entre o técnico e o atleta.
A Psicologia do Esporte
De acordo com Becker Jr. (2000), a psicologia do esporte é uma disciplina científica e como área profissional, pode ajudar a compreender melhor o exercício e o esporte praticado pelo ser humano, avaliando, analisando e dirigindo estas atividades através de processos psicológicos. Assim, de um modo amplo, ela deve ser responsável pelo bem-estar do atleta, sejam com objetivos competitivos, recreativos, de manutenção ou reabilitação da saúde.
Aplicação
O conhecimento e a competência da Psicologia do Esporte podem ser aplicados a duas funções principais (Becker Jr, 2000):
a) Avaliação e diagnóstico: podem ser utilizados diversos instrumentos de avaliação, com os mais variados objetivos.
b) Intervenção: é composta pelos procedimentos de orientação, treinamento, aconselhamento ou terapia em cooperação com outros profissionais em atividade no setor.
Histórico
Segundo Becker Jr. (2000), o primeiro encontro científico internacional, realizado em Psicologia do Esporte, foi organizado pelo Barão de Coubertin e promovido pelo Comitê Olímpico Internacional em 1913, sob o título de Congresso Internacional de Psicologia e Fisiologia do Esporte. Porém há pouca informação sobre
este evento e seus conferencistas. Somente em 1965, em Roma, por iniciativa do psiquiatra italiano Ferruccio Antonelli, foi realizado o I Congresso Mundial de Psicologia do Esporte, sendo um marco para o desenvolvimento desta nova disciplina.
O autor também cita que no início desta nova área de atuação, gerou interesse, curiosidade e também resistência. O maior desenvolvimento ocorreu na Europa e América do Norte, para posteriormente, o resto do mundo, incluindo o Brasil. Vale destacar que em 1981, foi realizado em Porto Alegre (RS) o I Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte.
O Técnico
O técnico tem uma grande importância no desporto atual. De acordo com Franco (2000), nos esportes individuais, ele geralmente passa a ter uma influência direta na atuação e forma de pensar do atleta. Já nos esportes coletivos, sua importância talvez seja ainda maior em relação aos resultados, pois é ele quem escala
a equipe, porém, como é maior o número de atletas, sua influência sobre a forma de pensar dos jogadores não é tão grande. A profissão de técnico é das mais difíceis, pois este é um ambiente onde as vitórias e as derrotas estão constantemente se alternando, ou seja, se uma equipe vence hoje, o técnico adversário será questionado. No dia seguinte, se a equipe perde, ele será questionado. Becker Jr. (2000) destaca a instabilidade da profissão. De acordo com o autor, se um técnico tiver 10 anos de sucessos, e iniciar a nova temporada com resultados ruins, poderá ser considerado um fracassado. Além da dificuldade de permanência num cargo, existe geralmente uma distância muito grande da família e dos amigos, pois com a freqüente troca de técnicos, é difícil que ele permaneça onde quer.
De acordo com Machado (1997), a experiência e uma visão especializada sobre o esporte são fundamentais para o técnico. Em suma, ter idade suficiente para ensinar os atletas, mas com pensamentos modernos e eficientes.
Qualidades do Técnico
Conhecimento
Ter um profundo conhecimento da modalidade é de fundamental importância na função do técnico. Deve-se levar em conta aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos, além da experiência e vivência do próprio esporte. Estar atento às últimas mudanças e evolução do esporte, além da racionalização sobre os seus atletas, isto é, não adianta copiar dos outros técnicos tudo, pois cada um possui um grupo de atletas diferentes. Assim como muitos técnicos dizem, "não há uma receita de bolo que fará sua equipe vencedora!".
Hendry (apud Machado, 1997) aponta em suas pesquisas, segundo depoimentos de técnicos e atletas, que o técnico ideal seria aquele indivíduo estável, sociável, criativo, inteligente, que assumiria riscos calculados, confiante e seguro. E que poderia tranqüilamente manter o controle em situações tensas e adversas especificamente do esporte.
De acordo com Becker Jr. (2000), muitos atletas quando param de atuar, se tornam técnicos, porém isto não garante o mesmo como um bom treinador. Quando ele era atleta, cumpria suas funções, porém nunca teve noção das totalidades das peças, o que demonstra a complexidade da função do técnico.
Comunicação
A comunicação do técnico com o atleta é muito importante, pois se ambos pensarem de forma parecida, o atleta conseguirá cumprir as funções designadas pelo técnico numa partida. Vale destacar que em esportes coletivos, se alguns jogadores pensarem de formas muito diferentes na quadra, é muito provável que várias jogadas serão erradas, o que dificultará na conclusão das jogadas e conseqüentemente na vitória da equipe.De acordo com Becker Jr. (2000), existem várias distorções, interferências e comunicação pobre que tornam problemática a comunicação entre técnicos e atletas. Hernandes Jr. (2000) diz que ao realizar críticas e sugestões, o técnico deve fazê-lo de tal forma que mostre compreensão da situação, pois sempre que criticamos temos uma postura defensiva do criticado, que por vezes, se torna agressivo.
Verbal: é a linguagem mais conhecida e praticada pelos técnicos em geral. Por si só, ela não transmite muita informação, geralmente está acompanhada de expressões faciais ou corporais, além da freqüente alternância de voz. Este complemento da comunicação verbal será definido a seguir.
Não-verbal: pouco conhecida, quase nenhum técnico utiliza esta comunicação com propriedade. Esta é uma extrema potência para comunicação, que apesar de não transmitir uma informação exata sobre o jogo, mostra o estado psicológico de quem o faz. Pode ser:
a) Para-linguagem: é como se fala e não seu conteúdo. Tem quatro componentes, são eles: tom da voz (baixo, médio ou alto); ritmo (velocidade); timbre (agudo, médio ou grave); alternâncias da fala (pausas, silêncios).
Segundo Orlick (apud Becker Jr., 2000), existe uma tendência dos treinadores de ativar constantemente os atletas antes e durante a competição. Becker Jr. (2000) diz que o grito faz com que o atleta inconscientemente, se proteja, contraindo-se e rejeitando o conteúdo desta mensagem. Weinberg e Gould (apud Becker Jr., 2000) referem que quando ficamos com raiva, tendemos a fazer afirmações cruéis e
irracionais, sem pensar em suas conseqüências. Sugere-se em cursos para técnicos, que após as derrotas, nenhuma análise deverá ser feita nas horas seguintes, para que a carga emocional não influencie negativamente.Outro fator que pode prejudicar a comunicação é a verbalização contraditória. Isto ocorre quando a informação não é objetiva, deixando o atleta com dúvidas sobre o comunicado. A análise das orientações apresentadas pelos técnicos durante as competições mostra que este fato não é raro (Becker Jr., 2000).
b) Linguagem corporal: é uma comunicação muito potente, em geral, percebida inconscientemente pelas pessoas. Expressões faciais, como sorriso, abertura dos olhos e olhares, contração das sobrancelhas, são exemplos de mensagens que permanecem no inconsciente dos atletas. Os movimentos dos braços, como por exemplo, mantê-los cruzados, abertos, ou na cintura, e do tronco, se está curvado à frente ou para trás, sendo que cada uma destas expressões transmite uma mensagem que será captada pelo atleta. O importante na comunicação do técnico é que seu conteúdo verbal esteja de acordo com a linguagem corporal.
c) Proxêmica: é um estudo sobre as distâncias que o ser humano utiliza para comunicar-se. Varia de acordo com a cultura e a intimidade entre as pessoas. Segundo Hall (apud Becker Jr., 2000), existem algumas distâncias básicas entre os seres humanos que se comunicam:
· Zona pública (20 metros): aulas, conferências, discursos, etc.
· Zona social (4 a 12 metros): encontros formais, reuniões, etc.
· Zona pessoal (1 a 4 metros): entre amigos e conhecidos.
· Zona íntima (0 a 20 centímetros): afetivos e amigos íntimos.
De acordo com Becker Jr. (2000), os técnicos que trabalham em esportes individuais devem usar mais a zona íntima, que causam maior impacto na comunicação. Os de esportes coletivos devem usar a zona pessoal. Porém o autor destaca que uma aproximação corporal do técnico com os titulares de uma equipe e
afastamento dos reservas, poderá gerar conflitos dentro do grupo pelo favoritismo mostrado. O toque físico é uma outra forma de comunicação, que geralmente demonstra uma identificação entre as pessoas. Segundo Becker Jr. (2000), está é uma mensagem de apoio do técnico em seus atletas, que em momentos difíceis, estarão unidos, gerando conforto aos mesmos.
Escuta ativa: De acordo com Rosenfeld & Wilder (apud Becker Jr., 2000), ouvir e escutar são ações diferentes. A primeira consiste somente em receber os sons, enquanto a segunda é um processo ativo. Os bons técnicos escutam o conteúdo trazido pelos atletas, fazem perguntas (interesse) ampliando a comunicação entre ambos. Um desportista que tenta falar com seu técnico e nota que ele não o escuta
intencionalmente, reage com frustração, decepção e raiva. Existe aí a possibilidade de um conflito entre o atleta e o técnico.
Disciplina
Becker Jr. (2000) diz que a disciplina está relacionada com a comunicação do técnico e com a interpretação de valores por parte dos jogadores. Segundo o autor, é importante o modo como o técnico reforça ou pune os atletas de acordo com suascondutas frente à regra geral que todo grupo esportivo deve respeitar, sem nenhuma exceção. O bom técnico é aquele que especifica o comportamento que deseja dos atletas.O autor também coloca que para uma punição ter sucesso, ela deve obedecer a três princípios básicos:
a) Moderada: ela deve ter um castigo que o atleta deva pagar com alguma dificuldade. Pode ser educativa, fazendo com que ele cumpra algumas tarefas a mais que os outros, além de outras formas que dêem o exemplo. Quando a punição é em dinheiro, deverá ser aplicada por um dirigente da equipe, evitando assim, conflitos com o técnico. O autor acredita que este dinheiro deve ser revertido para os próprios jogadores, ao final da temporada. A função do técnico não é fiscalizar os atletas fora do clube, mas de treinar a equipe. Quando ele quer assumir as duas funções, geralmente deixa a desejar como técnico, sua principal função.
b) Imediata: é a punição imediatamente após a conduta inadequada, que deixa claro seu objetivo. A demora na aplicação da pena pode gerar uma sensação de insegurança ao infrator e a todo grupo.
c) Consistente: é a mensagem entendida por todos do grupo: não há ninguém acima da lei e todos os infratores serão punidos.
Estilos de Liderança
É objetivo de vários estudos, pois mostra influência direta sobre o atleta. Os aspectos mais avaliados são satisfação e o rendimento. Uma das escalas que avalia estes aspectos é a Leadership Scale for Sports – LSS criada por Chelladurai & Salch (apud Becker Jr., 2000). A primeira parte do instrumento avalia a percepção do atleta sobre a conduta do treinador, a segunda a preferência dos atletas por condutas dos treinadores e a terceira a percepção dos treinadores sobre suas condutas. A escala LSS apresenta quatro formas de liderança, que são descritas a seguir:
Conduta orientada para o relacionamento
É caracterizada pela relação inter-pessoal cordial entre os membros da equipe, bem-estar de cada atleta, numa atmosfera positivista. É chamado também de modelo humanista de ensino, que se preocupa com a pessoa que pratica o esporte e seu desenvolvimento. Nos grupos cujos treinadores praticam este modelo, há mais alegria, conforto e menos pressões sociais. Porém, há um questionamento quanto a sua eficácia no esporte atual, visto que as exigências são cada vez maiores. Hernandes Jr. (2000) diz que com este tipo de postura, a posição do técnico pode tornar-se fragilizada, visto que o mesmo não tem autoridade e domínio sobre os atletas, ficando muitas vezes a mercê da manipulação dos mesmos.
Conduta orientada para a tarefa
Objetiva aperfeiçoar o rendimento do atleta, desenvolvendo suas habilidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas. Este modelo preocupa-se com a eficácia do treinamento, do ensino e aprendizagem, visando o cumprimento da tarefa. Nestes grupos, há mais pressões para o rendimento, cumprimento das tarefas, mais ansiedade e menos alegria. De acordo com Becker Jr. (2000), este é o comportamento mais comum no esporte atual, em que aliada à conduta para o cumprimento da tarefa, há um reforço positivo e orientações dos técnicos.
Conduta democrática
Conduta que permite uma grande participação dos atletas nas decisões ligadas às metas do grupo, métodos de treinamento, tática de jogo, estratégias de competição e etc. Cratty (apud Becker Jr. 2000) coloca que as vantagens desta conduta, é o maior acesso dos atletas ao técnico, a criação de independência e iniciativa do atleta em momentos de tensão, além de permitir que o atleta atue com mais flexibilidade em relação às táticas do que no modo autoritário. Segundo Hernandes Jr. (2000), esta é a postura que apresenta melhores resultados, pois o técnico é aberto a sugestões e discussões, porém somente acata aquilo que está de acordo. É compreensivo com atletas que mereçam, por serem esforçados e rígidos com aqueles que buscam desviar o curso dos treinamentos.
Conduta autocrática
O técnico se coloca acima de tudo, não respeitando nem dando atenção a opiniões de outros da comissão técnica e de jogadores. Segundo Hernandes Jr. (2000), o técnico fundamenta sua autoridade em sua posição e não, em seus conhecimentos, tornando assim temido, ao invés de respeitado, tendendo a tratar os atletas de forma paternalista, estando pouco receptivo a críticas e sugestões. Faz a função de um líder em situações de tensão ou conflito. Geralmente é exigente em demasia, elogiando raramente seus atletas e criticando-os a cada oportunidade que tenha. Pode auxiliar os atletas inseguros, que ao lado do técnico se sentem mais protegidos. A agressividade do atleta não será dirigida contra o técnico, mas contra os adversários ou o ambiente.
Weinberg & Gould (1995) dizem que slogans como "jogue duro ou sai", "não existe vitória sem dor", "você deve se doar em 110%" são muito utilizados como fatores motivacionais por técnicos que exigem o máximo de seus atletas. Porém, isto pode virar uma grande pressão sobre o atleta que sem desconfiar ou mesmo questionar o técnico, passa a treinar e jogar em condições de risco e propensas a lesões. Os atletas não conseguem mais distinguir entre o desconforto natural e excesso de treinos e jogos onde é exigido o esforço máximo, geralmente acompanhado de lesões. Muitos técnicos são coniventes com esses abusos, que consideram a vitória mais importante que o bem estar do atleta. Isto pode explicar porque atletas jovens "largam" o esporte antes mesmo de chegar no auge, pois o sacrifício não vale a recompensa da vitória.
O Técnico e a Equipe
Muitas vezes, se fala que a equipe tem a "cara do técnico". Isto quer dizer que, na maioria das ocasiões, a equipe incorpora para si a personalidade e as atitudes de seu técnico. De acordo com Laudier (1998), é de fundamental importância os exemplos e condutas que o técnico passa a seus comandados, pois se transmitir nervosismo e ansiedade exagerados, sua equipe assimilará tal comportamento. Porém, se for uma pessoa determinada a vencer, o tipo de profissional que não desiste diante das barreiras a serem transpostas, nem ao se deparar com situações adversas, assim sua equipe será. Em equipes psicologicamente instáveis, o técnico deve realçar sempre os pontos fortes e positivos que a equipe possua. Deve estar atento para inibir, e se possível eliminar as fraquezas, principalmente o pensamento negativo, além dos famosos chavões "não vamos conseguir", ou "a equipe deles é mais forte", o que normalmente acompanham estas equipes instáveis.
Escolinhas e categorias menores
Segundo Laudier (1998), esta é a fase em que a criança ainda está aprendendo os primeiros movimentos do esporte. Não sabe o que é rendimento e busca sempre a diversão, o passa-tempo. O técnico que trabalha com esta faixa etária deve ser formador e ao mesmo tempo educador. Em muitas vezes, é o primeiro contato da criança com uma pessoa externa (técnico) e com novos colegas, em que seus pais não estão próximos o tempo todo, o que pode deixar o aluno inibido e inseguro. Educadores destacam que nesta fase a criança gosta de brincar, de sonhar com ídolos, e de acordo com seu desenvolvimento psico-sócio-motor, os momentos de atenção são reduzidos, por isto, instruções demoradas e abstratas não geram interesse nos alunos. Becker Jr. (2000) destaca que nesta fase o treinador deve ser um motivador, dando atenção total aos alunos, visando sempre o esforço na aprendizagem e não o resultado final.
Categorias intermediárias (adolescentes)
Segundo Becker Jr. (2000), nesta fase o técnico deve adotar um estilo de trabalho voltado para o cumprimento de aspectos técnicos, sendo um orientador e disciplinador sistemático do mesmo. Deve ser exigente na busca de suas metas, ampliando o nível de esforço do atleta, sem descuidar o respeito pelo mesmo. De acordo com Laudier (1998), este é o momento ideal para a detecção e correção de possíveis vícios e atitudes incorretas, que futuramente poderão intervir de forma negativa na perfeita execução dos movimentos e fundamentos que a modalidade requer.
Esta é a fase que as individualidades, características e opiniões estão em franco desenvolvimento, o que exige uma grande compreensão do técnico, que pode ser visto como um amigo, ou uma pessoa chata, inconveniente.
Categoria principal (adultos)
Segundo Laudier (1998), esta é a categoria em que os atletas estão plenamente aptos e adaptam-se sobremaneira ao trabalho mais organizado, no qual estejam claras as funções os deveres e os direitos de todos os que fazem parte da equipe. Estes atletas, na quase totalidade já devidamente formados, quer física, técnica, tática e principalmente, moral e psicologicamente, exigem que todos no grupo sejam tratados com igualdade e sem distinções, não admitem apadrinhamento de espécie alguma, o que em muitas ocasiões, ocorre em equipes de categorias menores.
O perfil de técnico esperado para esta categoria é aquele extremamente estrategista, preocupado com os mínimos detalhes tanto nos treinamentos como nos jogos, que sabe distribuir funções e responsabilidades a todos, além de passar informações valiosas e eficazes. Vale ressaltar que nesta categoria, o envolvimento de pessoas exteriores a equipe, como familiares, empresários, patrocinadores e imprensa são muito grande, o
que pode causar conflitos entre o técnico e os jogadores, ou até mesmo entre os próprios jogadores. Nesta etapa, são todos profissionais, o que significa que dependem do esporte para sobreviver, devendo ser o trabalho conduzido com a maior seriedade e ética possível.
Seleções
De acordo com Laudier (1998), o técnico tem que estar sempre atento à formação de pequenos grupos, normalmente por atletas da mesma equipe, sobretudo na fase inicial dos treinamentos, quando a maioria ainda não se conhece muito bem. No caso, a estratégia é fazer com que todos os atletas se conheçam rapidamente, criando uma amizade e um diálogo em todo o grupo, o que provavelmente evitará mal-entendidos ou possíveis "boicotes" ao trabalho que está sendo executado. O técnico também deverá aconselhar para que, de fato, as camisas dos clubes sejam literalmente deixadas para trás, criando assim um espírito de união e representatividade da bandeira do país, estipulando os mesmos objetivos para todos. Novamente vale o destaque para o tratamento semelhante entre todos da equipe, lembrando ainda que, em uma seleção, geralmente se encontra as "estrelas" do esporte nacional, jogadores que, em muitas vezes são tratados de maneira diferenciada em seus clubes, o que é um erro notório.
Interação Técnico e Atleta
Segundo pesquisas de Machado (1997), sobre a interação entre técnicos e atletas, verificou-se que a compatibilidade entre estas pessoas está ligada as suas necessidades, sendo complementares entre si. Isto mostra que a interação perfeita entre técnico e atleta acontece quando há uma troca entre as partes, favorecendo para que o atleta não seja visto como um objeto à bem da conquista de um objetivo maior e o técnico não seja visto como um indivíduo autoritário e que está sempre com a razão.
Porém, pode haver técnicos e atletas com níveis de interação médio, onde um preenche parcialmente as necessidades do outro. Neste caso, um tolera o outro em favor do objetivo comum ou não, mas importante para eles, buscando manter o relacionamento aceitável, sem atritos. Contrariamente, podem existir técnicos que não consigam interagir com outros atletas. A incompatibilidade na relação é originada por motivos internos e externos. Podemos ter um atleta que necessite de uma alta carga de autoritarismo e disciplina para poder estar bem e crescendo progressivamente na modalidade, mas não consegue sucesso, pois se relaciona com um técnico flexível e democrático, que não exige tanto quanto ele necessita para apresentar o resultado. Ou ainda, um atleta que necessita constantemente de um afeto e tem um técnico que não demonstra preocupação com esta situação.
Assim, as interações entre técnicos e atletas vão depender principalmente das necessidades e personalidade dos envolvidos, o que pode influenciar no trabalho de ambos, tanto negativa com positivamente, quando não existir correspondência com as necessidades requeridas ou sobrarem estímulos inadequados.
Cratty (apud Machado, 1997), descreve alguns fatores para que os técnicos devam estar atentos, na tentativa de melhorarem a interação com os atletas: conhecer a personalidade do atleta com quem vai trabalhar; selecioná-los, se possível com personalidade semelhante a do técnico; ter comportamento flexível, e outras questões que facilitam o inter-relacionamento.
Além destes valores emocionais, podemos citar fatores econômicos, por exemplo, estão constantemente ligados as vidas de técnicos e atletas. As pressões que estes sofrem por parte de patrocinadores, clubes, dirigentes, torcida, imprensa e outros, com o intuito de apresentarem sempre uma performance impecável, atingem diretamente o atleta e o técnico. Conseqüentemente, o relacionamento entre um atleta e um técnico pode estar centrado ou sustentado por estes fatores.
Considerações Finais
Este estudo demonstrou a importante relação entre o atleta e o técnico. Entre os muitos fatores que interferem nesta relação, estão à qualidade dos conhecimentos, disciplina, a comunicação, a liderança e os objetivos do técnico. Por parte dos atletas, o desenvolvimento psico-sócio-motor, os objetivos, além da identificação com o estilo e forma de pensar do técnico.
As maneiras que um treinador deve lidar com seus atletas levando-se em conta a idade, grau de instrução e o perfil social do atleta, fazem do treinador muito mais que um simples professor de uma modalidade, mas também uma referência para várias situações que podem ocorrer no meio esportivo, ou mesmo na vida. O bom técnico deve ter conhecimentos sobre a técnica de movimentos, a tática de jogo, a preparação física e psicológica, para quando transmitir informações aos atletas, que faça orientações adequadas e preciosas para as diversas situações que podem ocorrer no esporte e na vida. O técnico deve também, saber diferenciar muito bem a categoria e a idade dos alunos que ele está trabalhando.
É por tudo isso que este trabalho visou analisar todos os fatores que envolvem a vida do treinador e sua relação perante seus atletas, e buscar dentro destes fatores quais os comportamentos que técnicos e atletas têm dentro do cotidiano do esporte.
Propomos que novos estudos sejam realizados sobre este assunto, porém com maior destaque para a diferença entre desportos individuais e coletivos.
Referências Bibliográficas
BECKER Jr., B. Manual de psicologia do esporte e exercício. Porto Alegre: Novaprova, 2000.
FRANCO, G. S. Psicologia no esporte e na atividade física. São Paulo: Manole, 2000. 206 p.
HERNANDES Jr.; OLMOS, B. D. Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.
LAUDIER, J. O técnico: procedimentos, atitudes e obrigações. Revista Sprint Magazine. Rio de Janeiro: Novembro / Dezembro, 1998. Páginas 34 a 48.
MACHADO, A. A. Psicologia do esporte: temas emergentes. Jundiaí: Ápice, 1997. 194 p.
SILVA, A. R. Psicologia del deporte y preparación del deportista. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1975.
WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Foundations of sport and exercise psychology. Estados Unidos da América: Editora Human Kinetics, 1995.
FONTE: XXIV Simpósio Nacional de Educação Física
II Seminário de Extensão