QUATRO EM LINHA (4 X 0) - ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
Para quem não conhece, Zego é considerado o melhor treinador do mundo, segundo a imprensa européia. Com mais de 40 anos de experiência no futsal, Zego tem 55 anos, e é natural de São Paulo (SP) o currículo de Zego é extenso. Destaque para passagens, como jogador, por Corinthians (bi-campeão brasileiro), Palmeiras, Seleção Brasileira (Tri-Campeão Sul-Americano na Argentina, Uruguai e Brasil) e internacional (campeão gaúcho). Como treinador atuou por sete anos na Espanha, onde foi tri-campeão nacional e europeu pela FIFUSA e bi-campeão espanhol orientando o Carrastilla la Mancha. Em Portugal foi campeão nacional pelo Avillhó. E na Itália trabalhou no Verona. Ele também ministrou cursos para formação de treinadores de 16 diferentes países e é autor do livro "Movimentos Ofensivos do Futsal", além de ser o criador do sistema 4.0, o já popular "quatro-em-linha".
Em meus inícios como treinador, no G. R. Citrosuco e na Fazendo Itamaraty de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, la pelo ano de 1982, observei que para fazer com que minhas equipes pudessem competir, com ambições e sem complexos, com aquelas de nível superior, teria fundamentalmente que melhorar constantemente em dois aspectos fundamentais, aprimorar consideravelmente a técnica individual e a mobilidade, para manter a posse de bola mesmo sendo constantemente pressionados.
Outro fator a buscar seria ter um juvenil que me lograsse em um ano já poder subir ao principal alguns garotos de futuro promissor e isso fui constatar e havia boa qualidade. Era um desafio grande, pois minhas equipes eram totalmente amadoras. Na Citrosuco o juvenil treinava no final da tarde e no principal, os rapazes trabalhavam no escritório da empresa durante o dia, à noite cursavam a faculdade e depois de tudo iam ao treino com desejos imensos. Meninos extremamente educados, com uma vida sacrificada e curiosamente, muito ilusionados com minha presença ao lado deles, o que nos tornava profundamente companheiros e me sensibilizavam muito. A qualidade humana deles me impressionava. Na Fazendo Itamaraty, de igual forma, excelentes rapazes, brasileiros e paraguaios, adolescentes e jovens que laboravam também duro todo o dia e depois a noite treinavam na nossa quadrinha aberta, com muitas ganas, rodeados de mosquitos por todos os lados.
Nossos contrincantes de fora de nossas cidades, em São Paulo e em Mato Grosso do Sul, eram agremiações meio profissionais, já com salários altos e uma estrutura profissional montada para competição. Difícil repto sem duvido, contudo com ilusão, perseverança e a ajuda de Deus, coisas boas acontecem.
Busquei então, no aspecto tático, recuar o pivot para propiciar superioridade numérica e ter mais um homem de apoio. Importante notar que na evoluçao do movimento poder-se-ia e pode-se evoluir de um 4x0 para um 3x1 ou um 2x2. Em hipotese alguma se deve mecanizar ou ter movimentos pre concebidos. O atleta, nesse momento, necessita pensar para fazer a leitura adequada e rápida das soluções possíveis, melhorando e desenvolvendo o raciocínio veloz e eficiente.
Sabia eu que as melhores equipes viriam desde o início de jogo diminuir o nosso espaço fortemente e precisávamos assustá-los, não transferindo a bola e sim saindo com ela dominada. Mesmo o adversário esperando atrás o posicionamento dos quatro jogadores me dava inúmeras variantes. Para o 3 x 1, para o 2 x 2, sobreposições, diagonais paralelas...dupla entrada, etc etc Outro detalhe a considerar, se viessem atrás nos propiciava tempo para pensar. Na fundamentação técnica, dava ênfases especiais a perna não dominante, numa proporção de 90 por cento para dez da perna dominante. Praticava tudo em diversos horários, horários livres para dois rapazes, outro horário para três atletas, outro individual. Aproveitava a hora de almoço deles, o inicio da manhã e conseguia melhorar tecnicamente a todos. Realmente com muito sacrifício.
Busquei, portanto, melhorando o bom passe, a boa recepção, a visão mais clara, a definição ( tiro ) de qualidade, etc... poder daí desenvolver um jogo veloz.
Uma grande falha dos últimos 20 anos no Brasil, foi e é pensar que o atleta competitivo depois de uma certa idade, não necessitar de praticar fundamentos. Os treinamentos atuais são embasados em dois pilares apenas; o apuro físico e a mecanização tática. Por esse motivo os campeões, dentro e fora do Brasil, perpetuam-se. A Malwee, o Interviu, O Benfica, etc... A única forma de conseguir resultados com menos dinheiro é o treinamento de qualidade superior e o cuidado e acompanhamento adequado das categorias menores.
O G. R. Citrosuco e a Fazenda Itamaraty de Ponta Porã tiveram uma trajetória brilhante. A equipe de Santos sagrou-se varias vezes campeã santista e conquistou por três vezes o título de campeã do interior paulista. No seu ultimo ano, se constituía em uma das melhores equipes do estado e inteiramente amadora. Infelizmente, um dia, por ciúmes entre os dirigentes da empresa veio a ordem superior para encerrar as atividades. Quanto a nossa esquadra sul mato-grossense, também teve trajetória repleta de conquistas e com méritos ainda superiores, pois os sacrifícios eram ainda mais complexos. Viajávamos para realizar amistosos em comboios, por se acaso algum de nossos veículos atolasse e assim ocorrendo tivéssemos de utilizar um outro veículo. Pelo caminho lamacento devido às constantes chuvas, depois de muitas horas, geralmente mais de dez, chegava-se ao local do jogo. Banhava-se e íamos a partida. Durante a viagem ficavam as imagens em nossas mentes de todo tipo de animais, repteis, felinos, aves, cruzando aqueles caminhos. No retorno, quando chegavamos a Fazenda, os meninos dormiam um pouco e logo regressavam ao trabalho no escritório. Eu aproveitava a manhã e início da tarde para treinar os mais jovens.
Foram varias vezes campeões da renomada Copa que a TV globo patrocinava. Muitas vezes campeões estaduais e representando a seleção de Mato Grosso do Sul obtiveram a classificação derrotando a seleção paulista. Posteriormente ficaram em quinto lugar na fase final. Quintos do Brasil.
Quanto ao quatro em linha, durante esses 5 anos, simplesmente passou desapercebido entre os treinadores brasileiros da época. Só depois de a Espanha conseguir seus dois títulos mundiais despertaram para as possibilidades que propiciava essa disposição ofensiva aqui no Brasil.
Dedico este comentário aos dois principais artífices de tudo isso, nossos máximos dirigentes, o Sr. Donato e o Dr. Nomuro, hoje falecido (dirigentes da Citrosuco e da Fazenda Itamaraty) e a todos aqueles brilhantes rapazes das duas agremiações.
FONTE: Blog do Zego
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