O universo de um atleta em competições desportivas gira em torno de uma série de desafios, situações novas que exigem disciplina, criatividade, técnica e tática. O jogador faz parte de um grupo que busca o sucesso, a vitória, o reconhecimento de seus fãs, de sua torcida. Porém é importante observar que, além de ser um membro deste grupo, o jogador também é um indivíduo, com suas particularidades, pensamentos, sentimentos e comportamentos próprios. Estas particularidades também entram em campo com o atleta no momento em que este começa um jogo, interferindo no desempenho deste antes, durante e após o término da partida.
Não raro podemos observar um atleta que vem tendo um bom aproveitamento durante o campeonato ou até mesmo durante uma partida, ter seu rendimento prejudicado ao receber uma crítica ou uma vaia da torcida. A ameaça de reprovação de seu comportamento durante o jogo gera um decréscimo da sua motivação, auto-confiança, eficácia. O momento exige do atleta a total concentração no momento presente da disputa, no aqui-agora, fazendo com que o foco de todo seu senso de estima fique extremamente atrelado à situação de jogo e sua auto-estima, diretamente influenciada pelo retorno que este recebe de seu meio.
É impossível negar que muitas vezes o meio exerce influência sobre a imagem que temos de nós mesmos. Isso é algo natural, que acontece não só com os jogadores, mas também com a grande maioria das pessoas. Todos nós, em algum momento de nossas vidas, necessitamos de um certo grau de aprovação de nossos comportamentos - um afago psicológico faz bem. O que cabe salientar aqui é que, receber elogios é algo positivo mas não pode ser algo essencial para a manutenção da auto-estima do jogador.
A rotina da competição é algo instável. Por melhor que seja o aproveitamento de uma equipe, nem sempre a vitória é certa. O objetivo será sempre a vitória, mesmo que nem sempre as coisas aconteçam da maneira que planejamos - mesmo o melhor time, às vezes perde. Perder faz parte do jogo, assim como ganhar. Tal como ter um aproveitamento regular em um jogo faz parte tanto quanto ser o craque da partida.
A torcida é composta de vários indivíduos, com crenças, temperamentos, personalidades diferentes. Pessoas que enxergam no esporte uma forma de lazer e divertimento; pessoas que são fiéis, constantes e continentes, que sofrem com uma derrota, mas que possuem um amor incondicional pelo seu time (tal como o amor de mãe!); e pessoas que fazem do futebol sua única razão de viver, sentindo-se raivoso e agindo agressivamente quando o time não corresponde às suas exigências de sucesso e poder ilimitados, lhe causando um profundo desgaste emocional.
Este último tipo de torcedor, o torcedor passional, merece uma atenção especial quando se fala da influência da torcida na auto-estima do jogador. Por quê? Porque justamente este torcedor é aquele que ovaciona seus ídolos em um momento e transforma-os em vilões no momento seguinte. Comportamento um tanto instável, não? Como é possível basear sua noção de valor, sua auto-estima em respostas de uma torcida tão instável?
Se você deseja a aprovação de outras pessoas, receber uma resposta favorável o deixará simplesmente feliz. Se você necessita da aprovação dos outros, se tornará escravo destes e seu mundo se transformará em ruínas se não a tiver. A primeira e mais importante aprovação que necessitamos é a de nós mesmos. Significa dizer que, naquele momento, a sua opinião a meu respeito não vale mais do que a minha própria.
Não significa que devemos desconsiderar totalmente a opinião dos outros a nosso respeito. Não se trata disso. Trata-se de aceitar, valorizar e amar a si mesmo independente do valor que o outro nos atribui, pois o valor que o outro percebe em mim na situação de jogo é influenciado por uma série de fatores que se modificam muito rapidamente, enquanto que o valor que eu percebo em mim diz respeito à pessoa que eu acredito e procuro ser.
Somos todos apenas seres humanos. Acertamos e erramos todos os dias de nossas vidas. Aprendemos com nossos erros, avaliamos e aceitamos as críticas (quando construtivas, vale dizer!) e assim, passo a passo, nos tornamos pessoas melhores.
FONTE: Dra. Thaís Pinheiro Silva - Psicóloga Desportiva
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