terça-feira, 9 de agosto de 2011

Arena Jaraguá: cartão-postal um tanto quanto apagado


Há tempos sem lotação máxima, abre-se o debate de como melhor gerir a Arena Jaraguá

Se as arquibancadas da Arena Jaraguá falassem, certamente lembrariam com saudades dos tempos que acomodavam grandes públicos em jogos de futsal. Depois do fim da parceria entre Malwee e ADJ (Associação Desportiva Jaraguá), em dezembro do ano passado, o local passou a receber pequenos públicos, graças a alguns eventos culturais e de negócios. Das 43 datas reservadas para uso da Arena de março até o final de agosto deste ano, apenas 17 são para práticas esportivas, como xadrez, karatê e futsal infantil. O restante é destinado, na maioria, a feiras.

Inaugurada no dia 5 de maio de 2007, com solenidade especial e show do cantor Leonardo, a Arena Jaraguá demandou investimento de R$ 17 milhões. O governo do Estado entrou com R$ 5,5 milhões do Fundosocial, com contrapartida do município de R$ 1,5 milhão. A Prefeitura depois tirou R$ 4 milhões dos cofres e financiou outros R$ 7,5 milhões, por meio de dois contratos. O primeiro, de R$ 4 milhões, terminou de ser pago em maio de 2010. O segundo, de R$ 3,5 milhões, foi quitado em dezembro do ano passado. Os dois foram financiados em 24 parcelas.

Os custos mensais para manter a Arena são de aproximadamente R$ 50 mil por mês, gerando prejuízo aos cofres públicos, pois não há eventos que gerem receita suficiente para bancar a manutenção. Para alugar a Arena, hoje, é necessário pagar um valor de R$ 2 mil por dia de uso, contando com gás, água, luz e limpeza.

Atualmente, o centro abriga a sede da Fundação Municipal de Esportes e a Liga Jaraguaense de Futebol. A capacidade de público é de 6,5 mil pessoas sentadas e 15 mil no total, contando com o piso e mais os espaços em que é possível ficar em pé. De área construída, são 20.640 metros quadrados. A estrutura conta com 22 camarotes, 32 bilheterias, oito bares e dez cabines de transmissão. O estacionamento tem capacidade para 1,2 mil vagas. A entrega da obra pronta chegou a ser prevista para o dia 25 de julho de 2006, em comemoração ao aniversário da cidade, mas foi adiada quatro vezes, devido a falta de recursos.

Então membro da Acijs, o hoje secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Célio Bayer, lembra que o projeto foi concebido porque a cidade carecia de espaços para a prática de esporte e não possuía um centro esportivo com capacidade para receber grandes públicos. Segundo ele, no momento em que o time da Malwee começou a ganhar mais destaque nacional e até internacional, a necessidade de se construir um espaço ainda maior se tornou urgente, pois “o time estava disputando a Liga Nacional e precisava de um ginásio com maior capacidade e não se poderia perder a oportunidade”. O esporte jaraguaense vivia um momento de glória nas quadras.

Com o fim do super time de futsal, a cidade não recebeu mais eventos esportivos de grande porte, apenas jogos das categorias de base das modalidades mantidas pela Fundação Municipal de Esportes e treinos diários. Para o secretário, ainda acontecem poucos eventos na Arena e há capacidade para aumentar a movimentação. No entanto, explica Célio, há a necessidade de que empresas se interessem em ajudar a arcar com os custos, que são altos. Para que se crie algum plano com o intuito de aumentar a receita da Arena, o secretário afirma que precisaria ter alguma equipe de esporte competindo e com destaque nacional. Em relação a outros eventos, não seria a Prefeitura a responsável por promover, pois não é permitido que o município realize evento com cobrança de ingresso. “Estamos em contato com os atores do turismo da cidade e com o núcleo da Acijs para promover eventos. A Fundação de Esportes também está buscando trazer jogos para cá”, diz Célio.

Mesmo com a falta de receita pelo pouco uso, o secretário garante que a Arena ainda é um espaço útil para a cidade, pois é o único local com capacidade de receber shows e eventos de grande porte. “A cidade está crescendo, então houve ali uma visão de futuro. A Arena já foi muito útil quando tinha o time de futsal forte. Se amanhã surgir mais uma equipe, com grande investimento público e privado, já teremos o espaço”.

Em relação a uma possível terceirização ou privatização da Arena, o secretário afirma que não é um assunto descartável, mas ainda não foi debatido com a prefeita Cecília Konell. “É uma ideia interessante”.

Dois meses depois, uma explosão
A sala fechada embaixo da escada, que funcionava como depósito no piso térreo da Arena Jaraguá, não tinha energia elétrica. Assim, antes de entrar no local, o funcionário de uma empresa de bebidas resolveu acender um isqueiro para ter pelo menos uma fonte de luz – e acabou com queimaduras sérias no corpo que lhe renderam algumas semanas na UTI. O motivo encontrado, na ocasião, foi um botijão de gás com indícios de vazamento, que ainda atingiu – embora com menor gravidade – outros dois funcionários da mesma empresa.

A ocorrência foi registrada no início da terceira semana de julho de 2007 – apenas dois meses depois da inauguração do espaço, causando certo receio na população, que temia novas explosões pelo local escolhido para a construção da Arena: o antigo lixão.

A polêmica só teria fim após um laudo da Defesa Civil, constatando que a explosão havia sido causada pelo “confinamento de gás metano e gás de cozinha em área não ventilada”. O gás de cozinha era mesmo do botijão – e o metano seria proveniente do lixão que existia no terreno e teria penetrado no local, já que parte do piso não tinha concreto. O risco de novos acidentes foi descartado. A área onde aconteceu o acidente deixou de ser utilizada.

Esporte, música e solidariedade
A inauguração da Arena foi grandiosa como o projeto: em uma semana de programação, o cantor Leonardo e a banda Nenhum de Nós passaram pelo palco, além do grupo circense Tholl, palestras motivacionais e um show de fogos de artifício. Nos próximos anos, a Arena faria parte da história de Jaraguá abrigando eventos culturais e esportivos e oferecendo abrigo a quem de solidariedade precisou.

Na comemoração de 131 anos de Jaraguá do Sul, em 2007, A Arena recebeu o show da banda Papas da Língua. Já em fevereiro de 2010, os planos da administração municipal de demolir o ginásio Arthur Muller para a construção de um novo terminal urbano incluíram a possibilidade de transformar a Arena em um centro esportivo, com a construção de mais um ginásio. Um ano antes, uma apresentação de show gospel acabou cancelada por motivos polêmicos: os produtores afirmavam que faltavam licenças para a execução de projetos musicais no local, enquanto a então Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo afirmou que o único empecilho seria o não pagamento da taxa do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), sem responsabilidade do governo municipal.
Outro show gospel, da banda Anjos de Resgate, não teve problemas para acontecer – assim como o 13º Jaraguá em Dança, a Expo 2010 e o show da banda adolescente Restart, em outubro do ano passado.

Foi no início de 2010, no entanto, que ela desempenhou sua função mais nobre: acolher famílias atingidas pelas enxurradas ou morando em casas com riscos de desmoronamento. Este ano, a partir de janeiro, novos estragos causados pelas chuvas fizeram da Arena uma central de arrecadação de donativos para os atingidos, que eram atendidos por dezenas de voluntários.

“Não há como sustentar”
“Sem um time competindo a nível nacional, não há como sustentar a Arena”, afirma o presidente da Associação dos Amigos do Esporte, Carione Pavanello. Isso não é um problema específico da Arena Jaraguá, ressalta. “Em lugar algum daria para sustentar um complexo desse porte somente com eventos locais e regionais”, sentencia.

Para tentar retomar a atenção do público, o time de futsal da ADJ está sendo reforçado com dois jogadores que participaram da Seleção Brasileira – Jédson, que já está no time, e um segundo atleta ainda não confirmado. “Vamos voltar à Liga Nacional no ano que vem, o que deve aquecer as coisas um pouco”, acredita o presidente.

Porém, isso não deve bastar para salvar a Arena, crê Pavanello. O espaço precisa de reformas, como a mudança no piso, requisitada desde 2010. “Não há condições para competições de alto nível com o piso atual, e o espaço precisa de outras obras para o conforto do público, acessibilidade e estética”, afirma.

A melhor solução, diz Pavanello, seria terceirizar o local. No seu ver, o poder público não é capaz de administrar e sustentar o espaço. “Os gastos são grandes demais para o município arcar”. De acordo com ele, um jogo da Liga Nacional teria uma despesa entre R$ 7 e 10 mil, enquanto os jogos locais têm despesa menor, mas não conseguem compensar os gastos. A possibilidade de usar a Arena para shows, afirma, não consegue equilibrar as contas. “Um show nacional sai no mínimo R$ 100 mil, somente com a produção, e os eventos menores acumulam despesas”.

“Problema não é o modelo”
“O modelo já está aí, e é um grande sucesso”, afirma o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Durval Marcatto, antes de notar que o sucesso em questão não é a Arena Jaraguá. Para ele, o esquema de administração pública em contato com as entidades organizadas da sociedade foi muito bem sucedido na Scar, por exemplo, mas não tem funcionado tão bem com a Arena.

“O poder público não sabe gerenciar bem os recursos e o espaço que tem”, nota. Para ele, falta ouvir as entidades e a sociedade no que diz respeito aos rumos e aos eventos do local. “A gestão tem que dar respeito e ouvir o que as entidades têm a dizer, para aproveitar melhor a Arena. É possível encontrar uma saída”.

Porém, não há uma solução mágica, uma única ação, que poderia solucionar o “abandono” da Arena Jaraguá, afirma. Segundo o presidente, é preciso estudar todo o histórico da Arena, e os objetivos pelos quais ela foi construída, antes que seja possível encontrar soluções definitivas. “Mas quanto maior a participação da sociedade organizada, e maior a consideração que ela receber da gestão pública, maior a chance de sucesso”.
Marcatto ressalta a Arena Jaraguá é uma obra “grandiosa” e muito importante para o município. Não basta olhar para o espaço em si, afirma, mas sim para a maneira como é usado – ou mal utilizado. “Como uma solução temporária, acho que a Arena deva abrigar eventos regionais e estaduais, pois só com competições e jogos locais o espaço não se justifica”.

“A privatização é o melhor caminho”
O empresário Walter Janssen Neto defende uma solução mais prática e rápida para a Arena Jaraguá. Segundo ele, a única alternativa viável para o equilíbrio do caixa é a privatização, o que geraria também recursos para Prefeitura que poderia aplicar em áreas de sua competência, como saúde e educação. “O poder público não consegue administrar estruturas deste porte, até pelas amarras previstas por sua própria natureza”. Ele lembra ainda que nos Estados Unidos este é o modelo adotado, onde as empresas privadas exploram sua marca, e que desde sempre deu bons resultados. “No Brasil não temos esta cultura, mas é preciso desmistificar o conceito de privatização. Desde o início, achei que o espaço deveria se chamar Arena Malwee, ser administrado pela empresa, por exemplo, porque na época era ela quem tinha seu nome vinculado a uma equipe de ponta”.

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