quinta-feira, 13 de maio de 2010

FUTEBOL E FUTSAL: ESPORTES IRMÃOS, PREPARAÇÕES OPOSTAS

Passagem para o campo encontra dificuldades


Marcelo Assad

O maior obstáculo para um jogador com idade avançada, como o meia Falcão, mudar do futsal para o futebol de campo é o tipo de preparação a que ele terá de adaptar sua musculatura e sua resistência. Para os especialistas, em geral, quem joga futsal só pode se tornar um jogador no campo se fizer a opção cedo, antes dos 18 anos.

Aqueles que tentam a mudança em idades mais avançadas - entre 25 e 30 anos - tendem ao fracasso por causa da grande diferença na dinâmica dos dois esportes. O meia Falcão, que saiu do futsal para se aventurar no futebol de campo com 27 anos, busca reverter esta sina, que já acompanhou craques do futsal como Manoel Tobias e Douglas e os fez desistir da tentativa.

Na opinião do preparador físico Richard Moses Bragarbyk, pós-graduado em Fisiologia do Exercício pela Universidade de São Paulo (USP) e em Treinamento Desportivo pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), o desgaste e a recuperação muscular de um atleta antes dos 20 anos são muito menores do que daqueles com mais de 25 anos. "Quando o atleta é ainda jovem, sua musculatura está em desenvolvimento. Assim consegue se adaptar tanto à velocidade quanto à resistência muscular exigidas pelo futebol de campo", afirma o preparador, que também foi jogador de futebol e de futsal, tendo disputado Macabíadas e outras competições regionais pelos dois esportes.

Outra movimentação

Apesar de a essência do jogo ser a mesma, não é novidade que a movimentação do futebol de campo exige outro tipo de treinamento. "As passadas no campo são maiores, isso o Falcão, por exemplo, ainda não tem. Não são tão curtas quanto no futsal, que exige explosão muscular. No futsal, o maior pique varia entre 5 a 7 metros, enquanto no futebol de campo o maior pique dado por um jogador chega a 20 metros", diz o professor, ressaltando que o futebol é um esporte intermitente, onde se revezam a parte aeróbia e a anaeróbia. Portanto, segundo ele, a preparação deve reforçar ambas as partes.

"Acho que cada caso é um caso, não há uma receita específica. Mas, supostamente, para a transição da quadra para o campo dar certo, é preciso dar ênfase a um treinamento com cargas consideradas altas de explosão e potência muscular, com velocidade e aceleração. Além disso é importante um trabalho planejado de musculação, para o fortalecimento do atleta. Afinal, a marcação do futebol de campo exige mais resistência do que no futsal", destaca.

Fator favorável

O fisiologista ressalta, porém, que a transição pode contar com fatores favoráveis. Para tanto, recorre ao consenso de que no futebol de campo há atualmente uma preparação especial para cada jogador do elenco, o que pode ajudar na adaptação de um ex-jogador de futsal. "No futsal, o treinamento em geral é igual para todos. Não há uma posição fixa hoje em dia, o futsal ficou mais dinâmico, todos atuam em todas as posições e precisam trabalhar situações mais similares, diminuindo as chances de aperfeiçoamento específico", diz.

O tipo de treino do futebol de campo, por sua vez, se caracteriza pelo biotipo do jogador, conforme explica Bragarbyk. Meio-campistas e laterais são os que mais correm e por isso têm um treinamento diferenciado dos atacantes e zagueiros, que exercitam mais a força e a potência muscular.

Ele conta que tais características decorrem do tipo de fibra que compõe a musculatura do atleta. "O ser humano tem dois tipos de fibra: lenta e rápida. Cada um nasce com pré-disposição para um tipo. Com treinamento, consegue-se melhorar a potencialidade, mas não mudar a característica", ressalta o preparador físico.

Conforme observa Bragarbyk, um zagueiro, com fibras lentas, pode reforçar suas características de resistência e até ganhar um pouco de explosão e velocidade. Estará se aperfeiçoando, mas não a ponto de ser um exímio atacante, rápido e finalizador. Já um atacante, de fibras rápidas pode aperfeiçoar a resistência, mas sempre terá como principais armas a explosão e velocidade.

FONTE: Universidade do Futebol

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